quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Zileide Silva fala sobre cobertura internacional e jornalismo político

Posted by Comunicação Social da Universidade Gama Filho 01:22, under | No comments


 O portal Globo Universidade destaca uma excelente matéria sobre a cobertura internacional e jornalismo político, a matéria fala ainda sobre uma palestra que ela ministrou no dia 5 de setembro.
Veja a matéria na integra a seguir.



Quase dez anos depois de cobrir o atentado terrorista que destruiu as torres gêmeas do World Trade Center nos Estados Unidos, a jornalista da Rede Globo Zileide Silva encontra estudantes e profissionais de comunicação noXXXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, promovido pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), para conversar sobre o fato que marcou a história mundial. Este e outros temas serão tratados pela repórter na palestra Jornalismo Político e Coberturas Internacionais, que acontece no dia 5 de setembro na Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). O debate acontece sob a mediação de Marliva Gonçalves, professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS), e tem o apoio do Globo Universidade.

Em entrevista exclusiva ao site do Globo Universidade, Zileide Silva fala sobre o início da carreira no jornalismo e sobre uma das coberturas mais importantes de sua trajetória como correspondente internacional. A repórter da Rede Globo também dá conselhos para os jovens estudantes e jornalistas, além de explicar como será sua participação no Intercom 2011.

Globo Universidade - Por que você se interessou pelo jornalismo? Como iniciou sua carreira nessa área?

Zileide Silva - Comecei a fazer jornalismo porque, já no colegial, tinha uma certa curiosidade. Havia um jornal na escola e eu entrei para fazer parte da equipe. Sempre pensei em fazer jornalismo de papel, de jornal. Nunca pensei em fazer televisão porque não gostava da minha voz, achava que era muito grossa. Quando comecei na faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, uma amiga, que trabalhava em uma rádio, me indicou para ser redatora. Lá, eu sentava ao lado do Joelmir Beting e achava muito legal os termos de economia que ele usava, porque ele traduzia a economia para um jeito popular, sem ser popularesco. Na rádio, fiquei muito amiga do Serginho Groisman. Daí, convidaram o Serginho Groisman para a Rádio Cultura, onde ele comandou um programa chamado "Matéria Prima", a origem do que ele faz hoje. Ele gostava da minha voz e me convidou para ser repórter. Passei em um teste da TV Cultura e comecei a fazer televisão, como repórter de geral na madrugada, que era a única vaga que tinha. Passei a usar os termos de economia que aprendi com o Joelmir Beting e logo me tornei repórter de economia na TV Cultura. Comecei a fazer todos os cursos nesta área que apareciam voltados para jornalistas. Também comecei História na Universidade de São Paulo (USP), mas não terminei. Logo depois, cobri o governo Collor. Entre 1996 e 1997, fui convidada para trabalhar na Globo. Fiquei entre três e quatro anos e apareceu uma oportunidade de ir para Nova York. Foi quando tive a sorte de estar lá no dia 11 de setembro.


(No vídeo ao lado, do Bom Dia Brasil, Zileide Silva e Edney Silvestre falam sobre o impacto da morte de Osama Bin Laden e relembram a cobertura do 11 de setembro nos Estados Unidos)






GU - Você cobriu o atentado terrorista ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001. Como você foi chamada para o local? Como foi sua reação?


ZS - O início da cobertura foi extremamente difícil, porque ninguém sabia o que estava acontecendo. Era meu último dia de férias e minha coordenadora me ligou, dizendo: “aconteceu um acidente horrível”. Aí, eu tomei um banho rápido e, enquanto eu estava andando para o local, aconteceu o segundo atentado. Quando comecei a cobertura, a gente já sabia que era um atentado terrorista. A gente começou a cobertura pelo telefone e, de repente, alguém ao meu lado disse: “Zileide, diz que outro avião atingiu o Pentágono”. Aí, eu coloquei a mão no telefone, tampando o bocal, e respondi: “Não, não é verdade”. E era verdade. Foi horrível conter a emoção naquela época, naquele lugar, porque, nos vídeos, você via as pessoas se jogando das Torres (as Torres do World Trade Center). Eu mesma demorei cerca de uma semana para ir, de fato, até as Torres. A primeira equipe a chegar lá foi a do Edney Silvestre, que foi deslocado imediatamente para o local do acidente. Ainda no dia do atentado, como a equipe parou de trabalhar muito tarde – depois do Jornal da Globo - saímos andando pelas avenidas de Nova York meio sozinhos. Imagine andar em Nova York e ver tudo quieto, tudo fechado, sem carros na rua? Não é normal. Quando eu cheguei em casa, finalmente, lembro que chorei muito e pensei: “meu Deus, e agora? O que vai ser do mundo se esse país, que é tão poderoso, mostrou que é tão vulnerável? O que vai ser a partir de agora?”. Mas a gente não tinha tempo de deixar a emoção tomar conta. A gente trabalhava da hora do Bom Dia Brasil até o Jornal da Globo. O espaço aéreo estava fechado e só abriu algum tempo depois. E foi aí que, entre outros, a Globo mandou para Nova York o William Waack, o César Tralli e o Paulo Zero, além de editores de imagem, para nos ajudar. No fim, quem acabou resumindo toda a emoção de cobrir este fato foi o Ali Kamel. Ele falava o seguinte: “a equipe foi testemunha ocular de um fato histórico”. E nós presenciamos aquilo, nós vivemos tudo aquilo. Eu já tinha feito muita coisa legal, mas a cobertura principal foi a do dia 11 de setembro de 2001. Foi muito emocionante e difícil de cobrir.
Zileide Silva (Foto: Divulgação)A jornalista da Rede Globo fala sobre a cobertura do atentado às Torres Gêmeas nos Estados Unidos
GU - Como é a rotina de um repórter de política e economia? O que você mais gosta nesta função?

ZS - Eu levo sempre uma reportagem que ilustra bem essa rotina. Na primeira posse do Lula, ele ia dar uma grande entrevista, de cunho nacional e internacional, em um auditório. No local, havia uma grande cortina e eu estava lá, esperando começar. De repente, eu vejo quatro dedos abrindo a cortina, para ver o auditório. Era o Lula, que estava tão ansioso, que queria, depois de tantas derrotas consecutivas, ver quem estava presente em sua posse. Na hora de escrever a reportagem, eu queria usar esse detalhe para o início da minha matéria, sem ser de forma pejorativa, e consegui. Abri minha primeira reportagem com esse detalhe. Então, costumo dizer que a cobertura política que eu faço é muito do detalhe, porque atrai o telespectador. A reportagem sobre a posse da Dilma também foi feita em detalhes. A retranca era: o que ninguém viu. Mostrei o pingente de olho grego que estava na pulseira da presidente e a menina que levantou levemente o vestido de uma ministra. Pensar em detalhes que mostram muito o que é Brasília e o que é cobertura política é fundamental, porque existe uma rejeição natural pela cidade, as pessoas acham que é um lugar corrupto, chato. Mas Brasília é importante e você tem que tornar a cobertura mais palatável para os telespectadores. Vou levar essas reportagens para a palestra e apresentar no Intercom.



(No vídeo ao lado, confira reportagem de Zileide Silva para o Fantástico sobre a posse da presidente Dilma Rousseff)







GU - Que conselhos você daria para os jovens estudantes de jornalismo?

ZS - O primeiro conselho que eu dou é ler, ler, ler qualquer coisa. Ter o hábito da leitura. Há uma relação direta entre o ato de escrever bem e a leitura. O segundo conselho é se perguntar se você realmente gosta do jornalismo. Tem certeza de que é isso que quer fazer? Não é fácil, é complicado, mas se você tem certeza de que quer fazer, não desista. Se a pessoa gosta, vai ter a oportunidade. Vai fazer. Eu sinto falta da leitura, quando eu paro um pouco de ler, meu texto perde um pouco a qualidade. Além do curso de jornalismo, o profissional precisa aprender algo mais e deve se preocupar com História. Acho que é preciso se situar e estudar mesmo. É a História que dá o contexto para qualquer situação que você vai escrever.
Zileide Silva (Foto: Divulgação)Zileide Silva fala sobre a rotina de um repórter de
política
GU - Para você, qual é a importância de participar de uma palestra no Intercom?

ZS - Eu adoro esse contato com os estudantes porque você nunca imagina o que você vai ouvir. Você se prepara para uma palestra, mas eles vêm com dúvidas que enriquecem tanto, que você é obrigada a pensar: "nossa, é isso". Isso, para mim, é muito importante, porque você fica pensando que esclareceu, mas não, e só percebe na hora que alguém te pergunta. No dia a dia, converso muito com os cinegrafistas e com a minha equipe, pergunto sempre se eles entenderam. Nestas palestras, fica claro que você tem que estar sempre se atualizando. Quando converso com os estudantes vejo isso. E agora com as novas mídias, e eles são muito antenados a elas, você se obriga a pensar muito mais. É uma troca mesmo, eu tento falar pouco na palestra, levo matérias, mostro, mas tento deixar muito tempo para as perguntas. Tanto é que o tempo da palestra termina e eles querem continuar, estou saindo da sala e eles ainda estão conversando. O mais importante é o debate, a troca.

GU - Que temas serão abordados na sua palestra e por que eles serão apresentados?

ZS - A experiência como correspondente e a cobertura de política e economia aqui em Brasília serão os temas abordados. Vou levar o Jornal Nacional do dia 11 de setembro de 2001 e falarei muito sobre isso. Todo mundo se lembra do que estava fazendo neste dia. A minha afilhada, que tem 17 anos, se lembra. Ela estava na escola e lembra, na época, que a aula acabou e eles foram para o pátio discutir sobre política e economia. E é sobre isso que eu quero debater no Intercom.
Esta matéria também pode ser lida diretamente no site da Rede Globo no canal Globo Universidade no link a seguir:



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